Capitulo 2: "Mudanças"
O quê?!!! Foi assim que reagi quando os meus pais disseram que andariam a vigiar-me, sem eu saber como para saber se faço alguma asneira. Nunca ouvi coisa tão estúpida, eles devem pensar que eu sou o meu irmão de 5 anos. Tentei fazer uma de impressionada e tal, e, no exacto momento em que eles fecharam aquela porta, eu estourei. Só podia ser um sonho, não podia estar a acontecer, é mesmo real! Sem pais nem irmão... Ai...! Na manhã seguinte:
- Estou? – respondeu a alguém do outro lado da linha.
- Então como está ser o teu primeiro dia da tua nova vida?! – perguntou uma voz esganiçada.
- Quem está a falar?
- O Pai Natal... Quem é que tua achas?!
- Filipa?
- Acertaste! Parabéns! Acabou de ganhar um balde de água fria para acordar.
- O que queres mesmo?
- Lembrar-te que dia é hoje.
- Sim, Filipa. Estou muito
, mas agora posso gozar o meu dia?
- A dormir? Nem pensar! Às dez e meia no parque.
- O quê?! Falta apenas meia hora.
-Vemo-nos no parque. Xau.
Foi assim que ouvi o primeiro bip da minha nova vida. Ainda muito ensonada, vesti-me, tomei o pequeno-almoço e saí de casa. Estava um belo sábado solarengo. Olhei para o sol, cada raio que luzia daquela esfera brilhante significava uma nova etapa da minha vida. Eram tantas as que via, que por momentos todos os meus pensamentos fluiram até àqueles raios e tentaram imaginar como tudo seria. Dei por mim entre grandes aventuras e belas histórias de amor. Seria realmente esse o meu destino? Lembrei-me como por magia que cada acção que tomava era uma jogada para o meu futuro. Então se assim fosse, qual seria a verdadeira intensão da minha existência? Revelou-se em mim um lado que dantes desconhecia, a partir daquele momento, vi-a as coisas de maneira diferente. Realmente tudo o que tinha acontecido até agora poderia influenciar a minha maneira de ser. Sentia que partir daquele momento, me tornava alguém diferente. Entretanto cheguei ao parque...
Como é que ela não pode estar aqui, pensei. Tanta coisa para nada, no fim é ela que se atrasa. Decidi sentar-me num banco à sua espera. Passado 1 hora...
- Oi! Desculpa, atrasei-me um bocado. – Disse a Filipa com um sorriso bastante irritante.
-Um bocado?! Tu estás uma hora atrasada! É bom que tenhas uma desculpa credível.
- Não precisas de ficar assim. Sabes como é, encontrei um cão atropelado e tive que socorre-lo.
- Mentirosa!
- Estou a dizer a verdade.
- Ai, é? Por acaso não fizeste respiração boca-a-boca?
- Uh! Que nojo...
- Logo vi! – disse com uma cara bem furiosa – O que tu querias mesmo?
- Nada.
- O quê? Como não querias nada? O que estamos aqui a fazer?
- Não sei bem. Mas quando acordei hoje de manhã, senti alguma vibração a puxar-me para aqui...
- E o que é que eu tenho a ver com isso?
- Bom, tu foste a desculpa para dar aos meus pais.
Naquele momento sentia-me a pessoa mais estúpida do mundo, tantas perguntas sobre o porquê da minha existência e afinal dizem-me que só sirvo para desculpa, é realmente um momento constrangedor.
- Bia, tu hoje pareces diferente... Não por fora, mas por dentro. Aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada. Por que disseste que estou diferente?
- Não sei, mas há algo que falta na Bia normal. Talvez um pouco de alegria... Pareces daquelas meninas misteriosas e sonhadoras, do tipo angelicais.
- Não se passa nada.
Ela reparou na diferença, afinal não era impressão minha, estou mesmo diferente. Só não sei porque mudei, muito menos em que mudei, talves na minha maneira de ser...
Todavia estava um belo dia, tinha comido um gelado com a Filipa e depois ela foi embora, parece que tinha outros “compromissos”. Estava por ali a andar, até que lembrei-me de um óptimo sítio para ir: a praia! Só no Verão é que ia lá, mas eu gosto muito de ver mar e não resisti à tentação. Entretanto...
- Desculpe, onde há aqui um bar? – perguntei.
- Bia?
- O quê? Não acredito que sejas tu... Há tanto tempo!
- É verdade, há muito que não via esse teu belo sorriso.
- Não precisas exagerar! – Bia corou e passou a mão pelo seu cabelo ondulando – Como vais?
- Na verdade, melhor agora que te vi.
- Lá estás tu outra vez. É sempre a mesma coisa.
- Eu conheço bem o teu ponto fraco! – o sujeito ri-se freneticamente – Ficas vermelha que nem um tomate.
-Bom, não é bem um ponto fraco, não é? – Disse Bia corando ainda mais – É mais um grande fluxo sanguíneo nas bochechas.
- Andas a estudar!
- Há anos...
- Foi pena termos perdido o contacto, lembro-me bem dos tempos que passamos juntos, muito divertidos.
- É! Só de me lembrar, dá logo vontade de rir!
- Não foi assim à tanto tempo. O quê? Dois anos!
- Passa depressa.
- “A magia do primeiro amor está em ignorarmos que pode acabar um dia.” – Disse o sujeito docemente, encarando nos olhos Bia – Gosto muito desta frase e tu és a razão...
- ... – Bia não conseguia dizer nada.
- Talvez um dia mudes de opinião... Até mais...
- Adeus...
Bia não cabia em sí, a sua mente parecia dar voltas de 360º a toda a hora, não compreendia o que se tinha passado. Ele já tinha morrido e tudo o que ele lhe deu foi-se como o vento que lhe batia levemente na cara, acariciando-a. “ Não posso crer... Eu já o tinha apagado da minha vida, como pode ele aparecer outra vez? E porque fiquei sorrindo para ele? Demasiadas perguntas e novamente sem repostas. Este dia está ser de mudanças radicais. Primeiro sou eu que mudo, depois novamente aparece uma pessoa na minha vida, que será que vai acontecer mais? Ah! Novamente uma pergunta sem resposta!”.
Fui para a cama assim que cheguei a casa, tinha estado na rua o dia inteiro. Toda a noite caíu sobre mim... Bia adormeceu logo.
Noutro lugar, não muito longe:
- Fiz tudo o que mandou, agora posso tirar este disfarce de menino bonito? – Disse o sujeito de à pouco, tentando livrar-se daquela técnica de gota - Aquela rapariga é realmente especial, consegui notar nos seus olhos.
- Porque achas que a escolhi?
- Pelo mesmo motivo que escolheu a mim.
- Então Alex, não foi sufeciente?
- Sim, sim Kaminu! Escolheu o melhor.
- Pois, agora vamos tratar da tua sucedora...
- Deste-lhe alguma pista?
- Sim. Citei-lhe “A magia do primeiro amor está em ignorarmos que pode acabar um dia.”
- Achas que ela vai perceber?
- Sim, quer dizer eu percebi...
- Mas isso és tu...
O sol rompia por entre as brechas da janela, havia uma, mais malandra que as outras, acertava em cheio nos olhos da Bia, acordando-a:
- Hun? – murmorou Bia ensonada – Estúpido sol! Hoje é domingo, não sei se sabes! – sem resposta – Estou a ficar maluca...
Tentou aproximar-se do relógio, eram exactamente 10 horas, o sol batia-lhe na cara, fazendo-a encandear-se e cair no chão. Gritou furiosa, por ter batido de cu. Tocaram à porta:
- Quem é? – perguntou ensonada.
- É o vizinho! – gritaram do outro lado.
“ Ah! E eu estou assim! Ele não me pode ver assim!” pensou.
- Já vai! – gritou.
Correu de um lado para o outro e acabau de cabelo apanhado, calções curtos e uma camisa branca. Tocaram novamente:
- Estou a ir! – disse enquanto abriu a porta – Sim?
- Sabes, como não tinha nada para fazer, resolvi vir ter contigo... – disse o vizinho, olhando para dentro de casa – Sai da frente, preciso de espaço!
- Ma...
No momento a seguir, o John, já estava dentro da sua casa, sentado mesmo ao lado do seu soutien, que não sabia como tinha ido ali parar.
- Que estavas a fazer? – disse ele olhando para o soutien.
- Que queres dizer com isso? – disse Bia, tão vermelha como um tomate.
- Oh, tu sabes...- disse com um sorriso malandro.
- Seu pervertido!!!
- Quem? Eu?! Onde está ele?
- Mas não há ele nenhum!
- O quê? Não me digas... – murmorou pondo a mão junto da boca – Que desperdicio!
- Matem-me...
- Não posso, mas gostaria... – disse com ar sonhdor.
- Estúpido!
- Obrigado!
Bia olhava para aquele rapaz de 25 anos, o seu vizinho de sempre. Enquanto ela só tinha uns prisidários 17 anos, ele já andava no fim da universidade. É piroso dizer, mas ele vira nascer, e a acompanhara durante toda a sua vida. Por vezes ela é que parecia ser a adulta porque a idade de John não correspondia à sua mentalidade infantil. Quer dizer, infantil para umas coisas, porque para “outras” já não era. Observava-o agora, a pegar no seu soutien.
- Muito “sexy”!
- Larga isso! Nunca ouviste dizer que não se mexe na roupa interior das senhoras?!
- Não... Eu já mexi muitas vezes.
- Pois, mas nas minhas não. Dá cá isso! – disse arrancando-lhe o soutien das mãos.
- Resmungona...
- Pervertido...
Jonh levantava-se do sofá em direcção à casa-de-banho, depois foi ver o quarto dela, de seguida o quarto dos pais, o quarto do irmão e a seguir a cozinha, foi em direcção à porta de entranda e saiu. Bia foi espreitar para todos os sitios que ele foi, mas não via lá nada de especial, estranho.
Fora da casa, um telefone ouviu-se:
- Estou? – o John assentiu – Sim, ninguém. – respondeu e foi-se embora como se desaparece-se no vento.
“ Cambada de tolos” Bia pensou. Vestiu-se e foi para o computador. Sim! Ela agora já podia ir para o PC sem que ninguém lhe chateasse. Falar aquelas “coisas” com as amigas pela Internet e pôr a música a altos berros. Ver anime a toda a hora, e só comer quando lhe apetece. Lindo! A Filipa estava online. Teve uma conversa bem animada com ela, já que ela passou a conversa inteira a falar do acontecimento da praia, que fora Bia que lhe contara (má ideia). Não acreditava que essa miuda de cabelos lisos e super espontânea tivesse tornada a sua melhor amiga. Desde o 2º ciclo que a conhecia, eram como irmãs.
Depois de almoçar às duas da tarde, foi para a praia novamente, não sabia porquê, mas aquele sitio trazia-lhe grandes momentos de paz. Mais uma mudança, não ficava o dia inteiro agarrada ao PC.
A praia estava quase deserta, pois encontrava-se um dia frio de Primavera. Por momentos fechou os olhos, a brisa suave e o canto do mar levou-lhe a alma até ao vento, fazendo-a sonhar por infinitas terras, infinitos horizontes. Sonhou ver naquele momento, tudo o que vira no dia anterior, quando veio aquela praia. O sonho levou-a mais longe, até à California, onde imaginara os seus pais a trabalhar para uma espécie de cantor pimba e o seu irmão, a atirar gelados para as saias de outras raparigas, aí, ela sorriu.
Alguém a observava:
- O que tu achas, Alex?
- Não sei, mas parece muito distante. Escolhemo-a porque era muito alegre, isso não está a acontecer.
- Deve ser por ela nos sentir próximos, ela veio para o mesmo sitio novamente.
- É verdade. Está a começar a despertar. – suspirou – Quantou tempo mais, Kaminu?
- Em breve...
Filipa corria apressada, tinha que chegar a casa da Biatriz o quanto antes. As noticias que recebera tinham sido impressionantes! Tocou à porta mas ninguém dava sinal de vida. O telemóvel desligado, não estava na Internet, nem em casa, onde poderia estar ela? Resolveu esperar...
- Como podeste demorar tanto? – gritou Filipa, vendo Bia chegar.
- O que estás aqui a fazer? – perguntou Bia confusa.
- Tenho noticias bombásticas! – disse, fazendo um olhar que metia curiosidade a todos.
- Diz, diz!
- Depois de entrar em tua casa...
- Má!
Bia abre a porta apressadamente, empurra Filipa para dentro de casa e senta-a no sofá:
- Diz!
- Não sei, não...
- Diz lá!
- OK, eu digo.
- Então?!
- Nem sabes o que aconteceu! Amanhã, depois das aulas, o Simão vai dar uma festa em casa dele!
- Tanta coisa só por causa disso?
- Não estás a perceber. Nós estamos convidadas e sabes que mais? – perguntou pondo a mão na boca - Ele tem uma grande casa com piscina e empregados.
- Assim já estamos a falar melhor.
- Amanhã às 7, depois das aulas! Venho aqui ter para nos prepararmos. Adeus!
E saiu a correr, provalvelmente a avisar mais pessoal.
O tempo passou a correr! Bia deu por ela já estava a dar o toque da saida das aulas.
- Não se esqueçam do trabalho de grupo! – disse a professora, apesar de estar a falar para os papeis amuchucados sobre as mesas.
Fora da sala:
- Bia! Espera! – gritaram Filipa, Magda e Catarina em uníssono.
- Estou a esperar! – gritou enquanto fazia uma posse de mulher morta.
Todas estavam em casa do Simão, era tal e qual como a Filipa tinha dito: piscina, empregados, casa grande... Um rapaz alto aproximava-se delas:
- Fogo! Finalmente conseguimos falar com o dono da casa! – bricou Magda.
- Sabem como é, uma pessoa como eu tem muitas coisas para fazer. – brincou Simão.
- Eh, eh! Vocês não batem bem! Conversa de malucos! – disse Catarina que aproveitava qualquer oportunidade para gozar.
- Sempre a mesma coisa... – lamentou Simão.
- Eu sou assim! – disse Catarina.
- É verdade. – confirmou Magda.
- Parece que aqui Bia é que não está para muitas conve... – disse Simão sem acabar, parece que a Bia tinha sumido.
- Ah, ah , ah! – riu-se Catarina.
Perto dali:
- Quem és tu? – perguntou Bia, olhando para uma espécie de boneco flutuante, com asas e careca, só com uma túnica vestida.
- Um pedaço da tua alma... – respondeu o boneco falante...
- O quê?! Estou a ficar maluca! – disse Bia confusa.
- Vem até aqui...
E Bia foi...
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